O Golpe de 1964 ainda faz vítimas
A interrupção
Enrico Bianco
Fala-se tanto em crises financeiras e econômicas esquecendo, deliberadamente a mais importante: a "crise de inteligência" que assola grande parte do nosso País.
Ninguém ignora que o dinheiro é o que alimenta o "físico" humano permitindo-lhe sobreviver "fisicamente" num processo gastro/intestinal parecido ao de qualquer animal selvagem. Esta é uma verdade que se realiza e se resolve quase diariamente na rede de esgoto, ou na natureza; de acordo com as condições habitacionais de cada espécie.
Se o alimento necessário à vida física do homem é fornecido pelo dinheiro, esse mesmo alimento segue caminhos diferentes em relação a "àquela inteligência" que é capaz de separá-lo do reino animal. Quando se interrompe essa "alimentação", nada mais separa a humanidade dos animais da selva.
A interrupção, mesmo que "temporária", da circulação da Tribuna da Imprensa é o aviso assustador da decadência mental de um setor repressivo da sociedade de um país que se diz civilizado. O nosso.
Interromper a circulação desse Jornal é o mesmo que impor a omissão de dizer a verdade, nas denúncias de crimes cometidos contra a população, pela coragem e o verdadeiro patriotismo do jornalista Helio Fernandes. Ele faz isto diariamente dirigindo-se àqueles que fazem da própria consciência a razão e a essência de suas vidas.
Quem está permitindo que isto aconteça, criando condições para tanto, revela a mentalidade de obscurantismo, idêntico às épocas da ditadura e seus tristes métodos, condenados pelo governo que um povo livre elegeu. Não é isso que uma nação, que trabalha honestamente, espera. Ela está disposta a enfrentar qualquer "crise", nossa ou dos outros, mas não admite empulhações em seus direitos de informação, de livre expressão de quem sabe defendê-la, venham de quem vier.
A intenção de "calar a boca" de quem sabe das coisas é evidente, mas a História ensina que esse sistema nunca dá certo e o resultado final é sempre penoso para os que o adotaram. É bom também saber que essas "interrupções", que provocam a asfixia das "informações não compráveis", acabam saindo muito caras à Nação que as sofrem, no que diz sua fama de país civilizado.
Enrico Bianco é artista plástico